Houve um tempo em que eu não
tinha objetivos de vida. Vivia em função dos outros, procurando fazer com que
as coisas funcionassem da melhor maneira possível para que o cotidiano se
aproximasse da ideia de uma vida feliz. Naquela época tudo era organizado, as
mesmas coisas eram sempre feitas da mesma maneira. E assim eu ia mantendo tudo
perfeito e agradável para aqueles que conviviam comigo. Inconscientemente eu reproduzia
a forma como minha mãe encarava a vida. Eu fazia compras de supermercado uma
vez por mês. Minha lista de compras acompanhava a ordem das gôndolas do
supermercado, que era sempre o mesmo. As quantidades eram exatas, tudo que eu
comprava era suficiente até o final do mês. Não era necessário voltar para
comprar nada, porque a rotina da casa era meticulosamente calculada.
Aos poucos fui descobrindo que
não havia pecado algum em fazer as coisas para mim mesma. Fui fazendo pequenas
conquistas com a desculpa de que aquilo iria melhorar a vida daqueles que
estavam a minha volta. Sendo que, aqueles não me davam o menor valor. Então, já
não conseguia mais deixar tudo tão meticulosamente calculado. Fazia compras de
supermercado de duas em duas semanas e mesmo assim de vez em quando faltava
alguma coisa que me fazia ter que ir de emergência ao supermercado.
Hoje descobri que tenho um
objetivo de vida só meu. Busco a minha satisfação pessoal sem culpa, tentado
realizar meus sonhos. Quando me lembro
de ir ao supermercado, compro coisas que muitas vezes não combinam. Compro o amaciante
e esqueço o sabão em pó, compro a carne e esqueço o alho. As vezes não tenho
nem o que tomar de café da manhã e tenho que correr na padaria. Apesar da desorganização,
estou feliz porque descobri que não há nada de errado em buscar satisfação
pessoal. Lembro com tristeza da minha mãe que nunca pensou em si mesma, viveu
em função das outras pessoas e morreu com certeza sem realizar seus sonhos, sem
nem mesmo ter-se dado o direito de sonhar.
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