domingo, 23 de outubro de 2011

Inversamente Proporcional

Houve um tempo em que eu não tinha objetivos de vida. Vivia em função dos outros, procurando fazer com que as coisas funcionassem da melhor maneira possível para que o cotidiano se aproximasse da ideia de uma vida feliz. Naquela época tudo era organizado, as mesmas coisas eram sempre feitas da mesma maneira. E assim eu ia mantendo tudo perfeito e agradável para aqueles que conviviam comigo. Inconscientemente eu reproduzia a forma como minha mãe encarava a vida. Eu fazia compras de supermercado uma vez por mês. Minha lista de compras acompanhava a ordem das gôndolas do supermercado, que era sempre o mesmo. As quantidades eram exatas, tudo que eu comprava era suficiente até o final do mês. Não era necessário voltar para comprar nada, porque a rotina da casa era meticulosamente calculada.
Aos poucos fui descobrindo que não havia pecado algum em fazer as coisas para mim mesma. Fui fazendo pequenas conquistas com a desculpa de que aquilo iria melhorar a vida daqueles que estavam a minha volta. Sendo que, aqueles não me davam o menor valor. Então, já não conseguia mais deixar tudo tão meticulosamente calculado. Fazia compras de supermercado de duas em duas semanas e mesmo assim de vez em quando faltava alguma coisa que me fazia ter que ir de emergência ao supermercado.
Hoje descobri que tenho um objetivo de vida só meu. Busco a minha satisfação pessoal sem culpa, tentado realizar meus sonhos.  Quando me lembro de ir ao supermercado, compro coisas que muitas vezes não combinam. Compro o amaciante e esqueço o sabão em pó, compro a carne e esqueço o alho. As vezes não tenho nem o que tomar de café da manhã e tenho que correr na padaria. Apesar da desorganização, estou feliz porque descobri que não há nada de errado em buscar satisfação pessoal. Lembro com tristeza da minha mãe que nunca pensou em si mesma, viveu em função das outras pessoas e morreu com certeza sem realizar seus sonhos, sem nem mesmo ter-se dado o direito de sonhar.

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