Ontem dei carona a um grande
amigo, aquele tipo de pessoa que a gente tem assunto até se ficar conversando
por três dias seguidos. Durante os 40 quilômetros que conversamos pude notar
que a cada ultrapassagem que eu fazia o assunto morria, pairava um silêncio.
Ultrapassagem feita, o assunto retomava. Achei engraçado e perguntei:
_ Você está com medo de andar
comigo?
Segurando o puta que pariu ele
respondeu:
_ Não, de jeito nenhum, não é a
primeira vez que pego carona... (silêncio) (ultrapassagem) ...com você, eu
estava só pensando para falar mesmo.
Tenho amigos muito educados.
No mesmo dia, um pouco mais tarde
eu conversava com outra grande amiga. Aquele tipo de conversa feminina: amor,
sapatos, sexo, bolsas, marido, maquiagem, namorado, dieta, relacionamento, etc.
De repente ela me surpreendeu com a seguinte frase:
_ Eu disse uma coisa para
Marcinha (minha chará), mas pedi que ela não comentasse com você de jeito
nenhum. Nós queremos te apresentar uma pessoa, mas não vamos te contar para te pegar de surpresa,
porque temos medo que você fuja que nem diabo da cruz...
Respondi:
_ Então você podia ter comentado
isso com qualquer pessoa, menos comigo.
Choramos de tanto rir da
incoerência daquela conversa.
Quando nos importamos realmente com o amigo, policiamos a
sinceridade excessiva para não magoar. Sabemos quais atitudes o amigo costuma
ter, e se achamos que podemos melhorar sua situação induzimos acontecimentos. No
entanto, quando existe reciprocidade e empatia tudo isso é notado, e se for
conveniente fica subentendido. Amizade é assim, mesmo que fiquem coisas nas
entrelinhas existe uma cumplicidade, ainda que velada.
O mais interessante deste tipo de amizade
é que essa incoerência deixa tudo leve e divertido. Ninguém fica ofendido,
nem se abala a confiança.
Um comentário:
Adorei o texto, Marcia, ainda mais porque estou nas entrelinhas...rs A amizade realmente deixa lastro, e é para bem poucos realmente. beijos, amiga. Vi
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