quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Amigos Incoerentes


Ontem dei carona a um grande amigo, aquele tipo de pessoa que a gente tem assunto até se ficar conversando por três dias seguidos. Durante os 40 quilômetros que conversamos pude notar que a cada ultrapassagem que eu fazia o assunto morria, pairava um silêncio. Ultrapassagem feita, o assunto retomava. Achei engraçado e perguntei:

_ Você está com medo de andar comigo?

Segurando o puta que pariu ele respondeu:

_ Não, de jeito nenhum, não é a primeira vez que pego carona... (silêncio) (ultrapassagem) ...com você, eu estava só pensando para falar mesmo.

Tenho amigos muito educados.

No mesmo dia, um pouco mais tarde eu conversava com outra grande amiga. Aquele tipo de conversa feminina: amor, sapatos, sexo, bolsas, marido, maquiagem, namorado, dieta, relacionamento, etc. De repente ela me surpreendeu com a seguinte frase:

_ Eu disse uma coisa para Marcinha (minha chará), mas pedi que ela não comentasse com você de jeito nenhum. Nós queremos te apresentar uma pessoa, mas não vamos te contar para te pegar de surpresa, porque temos medo que você fuja que nem diabo da cruz...

Respondi:

_ Então você podia ter comentado isso com qualquer pessoa, menos comigo.

Choramos de tanto rir da incoerência daquela conversa.

Quando nos importamos  realmente com o amigo, policiamos a sinceridade excessiva para não magoar. Sabemos quais atitudes o amigo costuma ter, e se achamos que podemos melhorar sua situação induzimos acontecimentos. No entanto, quando existe reciprocidade e empatia tudo isso é notado, e se for conveniente fica subentendido. Amizade é assim, mesmo que fiquem coisas nas entrelinhas existe uma cumplicidade, ainda que velada.

O mais interessante deste tipo de amizade é que essa incoerência deixa tudo leve e divertido. Ninguém fica ofendido, nem se abala a confiança.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o texto, Marcia, ainda mais porque estou nas entrelinhas...rs A amizade realmente deixa lastro, e é para bem poucos realmente. beijos, amiga. Vi