Em uma palestra recente Frei Beto disse que nunca teria se tornado um escritor se não fosse pelos anos que passou preso, que devia sua carreira aos Coronéis da ditadura. Não me esqueci de quando ele disse: “você pode ser um executivo de sucesso, um ótimo engenheiro, ser muito bem sucedido na carreira que escolheu, mas se mesmo com esse sucesso você ainda sentir um vazio, o vazio da arte, aquele que só será preenchido quando expuser a sua arte, (no caso dele, só quando saciar a vontade de escrever) mesmo que isso seja só um desejo; então você é um escritor”. Estas palavras ficaram retumbando na minha mente. Ouvi também outros escritores dizerem que um bom ficcionista alimenta suas ideias em tragédias pessoais.
Tenho um projeto em andamento romanceando tragédias pessoais, transformando-as quase em comédia. E o que é pior, baseada em fatos reais. Como forma de não abandonar este projeto que é o preenchimento do meu vazio, decidi então escrever com certa regularidade. Não só aproveitando os momentos de inspiração como exercitando a escrita tentado colorir ideias em branco e preto.
Tudo ia muito bem, até que nos últimos quinze dias fui perdendo a regularidade. O compromisso que tinha comigo mesma de escrever pelo menos uma crônica por semana foi ficando atrasado. Meu projeto estava parado. Isto porque uma pessoa havia aparecido na minha vida me fazendo ocupar o tempo em que eu escrevia com romance. Uma história que nasceu despretensiosa, mas que foi tomando uma velocidade acelerada. Quando me deixei envolver totalmente pelo perfume do que seria uma eventual paixão... aconteceu: um inesperado pé na bunda.
Seria trágico, se eu não tivesse o transformado em cômico. Mas que merda! Não sei por que eu faço isso.
Saí com uma amiga para contar a minha tragédia pessoal. (Esta amiga tem um relacionamento muito estável com um rapaz que mora em Belo Horizonte. Eles não se veem com tanto frequência, e toda vez que o namorado dela vem eu estou com uma pessoa diferente, que eu juro que é o amor da minha vida. Agora estou começando a ficar sem graça.) Acabei contando coisas muito mais íntimas. Contei sobre os meus sonhos e mostrei a ela meus esboços. Foi uma nudez espiritual! Mas o fato é que acabei deixando o pé na bunda de lado para falar apaixonadamente sobre meu desejo de escrever e do quanto eu estava deixando isto de lado.
Foi quando ela me perguntou: - você não pensa em ter um relacionamento estável nunca? Parei para pensar... “Sim, adoraria ter uma pessoa do meu lado e dá-la amor eterno.” Mas isso não acontece na minha vida. E eu me divirto com minhas tragédias pessoais. Eu sei sim qual é o caminho para a estabilidade, mas eu fujo dele e não consigo entender por quê. Estou começando a achar que procuro encrenca como forma de inspiração.
Mas que merda! Transformo minhas tragédias em ideias apaixonadas. Quando falo delas meu olhos brilham, meu coração acelera, se alguém me der corda falo pelos cotovelos sobre elas, as minhas paixões: as ideias.
Pode parecer que não sofro nunca, mas não é verdade. Faço ironia das minhas tragédias pessoais e continuo andando na contramão atrás de mais tragédias. Inspiração autodestrutiva ou espírito de escritor?
Um comentário:
O caminho é esse..eu acredito...
Temos que olhar para nossas tragédias e enxergar nelas o que há de bom...e sempre há...mesmo que no momento em que elas aconteçam não consigamos entender o porque.
Não que tenhamos que nos conformar com tudo...é necessário acreditar nos nossos sonhos, torná-los realidade...mas às vezes até um pé na #$&$# nos leva pra frente...rsrsrsrs
Filosofia de botequim? pode sté ser! mas serve em muitas ocasiões.
Grande abraço...
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