domingo, 26 de junho de 2011

Deus protege os bêbados, as criancinhas e os distraídos

 

Desde que comecei da dar atenção a minha falta de atenção percebi que Deus deve ter colocado um anjo da guarda, muito bem disposto, de plantão no meu encalço. A cada dia as coisas vão ficando piores. Os episódios são praticamente inexplicáveis. E quanto mais percebo o que passa desapercebido por mim vou ficando mais preocupada.

Tenho uma amiga que tem uma roça num lugar paradisíaco a 20 Km de Campestre. Já fui lá várias vezes; quase sempre com ela junto. Numa determinada ocasião ela me disse que iria na frente e que eu teria que ir sozinha. A explicação era simples: “- mantenha-se sempre na estrada principal, após 20 Km entre à esquerda e pronto; chegou.” E não é que deu certo; cheguei mesmo! Na volta a explicação era o oposto:  ” – Dobre a primeira à direita, logo depois da porteira e siga reto por 20 Km.” Fácil! Entrei no carro, liguei o som, e 10 Km depois me lembrei que não tinha dobrado à direita. Entrei em pânico. Perdida na zona rural, sem sinal de celular, entrei em três fazendas para pedir informação. Não tinha ninguém em nenhuma delas. Começava a escurecer e o pânico foi tomando conta de mim. Quando, de repente, passou uma carro com duas pessoas dentro. Acenei; eles param e perguntei como chegar ao asfalto. Uns 15 Km depois da explicação, enfim, comecei a ver as luzes da cidade. Já era noite. Guardei este episódio em segredo durante meses.  - Como eu pude esquecer de virar a direita logo no começo? Inexplicável.

O caso mais terrível de todos talvez tenha sido o da ponte pênsil de Santos. Eu voltava de Praia Grande para Santos, de noite e sozinha. Peguei um desvio. (Não sabia que desvios foram feitos para serem desviados.) Já tinha notado que aquela estrada estava muito vazia para um feriado. Onde estavam as pessoas? Peguei a ponte. Sozinha. Não havia mais nenhum carro no mesmo sentido que eu. Então o sinal da ponte abriu para o sentido contrário. E eu estava no meio da ponte. Todos os carros do mundo começaram a vir na minha direção, em uma ponte que não cabe dois carros um ao lado do outro. Pânico total! Joguei duas rodas no pequeno passei que tem na ponte e fui. Rezando. Quando cheguei no fim da ponte parei o carro num posto policial onde não havia uma alma viva e, com  a grande possibilidade de ser assaltada, desci do carro e chorei, chorei muito. Inicialmente achei que tivesse sido um erro de quem controla o semáforo da ponte. Pelo menos é o que eu contei para as pessoas. Mas, no fundo no fundo, eu sei que alguma distração havia ali. Por que só eu peguei o maldito desvio e fui parar na Ponte? Onde estavam os outros carros? …Mistério…puro mistério!

Contramão em ruas conhecidas, inclusive centrais, e catalogação de buracos já são coisas naturais do meio dia-a-dia. Meus amigos não estranham mais, apenas rezam por  mim quando estou sozinha e por eles quando estão comigo. Ontem de noite, voltando de Aguaí, paramos na rodoviária de Águas da Prata para fazer xixi. Uma rodoviária minúscula, diga-se de passagem. Contornando a rodoviária para pegar novamente a estrada me deparei de frente com um ônibus do Cometa. Voltei de ré! - O que será que passou pela cabeça daquele motorista? Melhor nem saber…

sábado, 18 de junho de 2011

Paixão às avessas

Em uma palestra recente Frei Beto disse que nunca teria se tornado um escritor se não fosse pelos anos que passou preso, que devia sua carreira aos Coronéis da ditadura. Não me esqueci de quando ele disse: “você pode ser um executivo de sucesso, um ótimo engenheiro, ser muito bem sucedido na carreira que escolheu, mas se mesmo com esse sucesso você ainda sentir um vazio, o vazio da arte, aquele que só será preenchido quando expuser a sua arte, (no caso dele, só quando saciar a vontade de escrever) mesmo que isso seja só um desejo;  então você é um escritor”. Estas palavras ficaram retumbando na minha mente. Ouvi também outros escritores dizerem que um bom ficcionista alimenta suas ideias em tragédias pessoais.
Tenho um projeto em andamento romanceando tragédias pessoais, transformando-as quase em comédia.  E o que é pior, baseada em fatos reais.  Como forma de não abandonar este projeto que é o preenchimento do meu vazio, decidi então escrever com certa regularidade. Não só aproveitando os momentos de inspiração como exercitando a escrita tentado colorir ideias em branco e preto.
Tudo ia muito bem, até que nos últimos quinze dias fui perdendo a regularidade. O compromisso que tinha comigo mesma de escrever pelo menos uma crônica por semana foi ficando atrasado. Meu projeto estava parado. Isto porque uma pessoa havia aparecido na minha vida me fazendo ocupar o tempo em que eu escrevia com romance. Uma história que nasceu despretensiosa, mas que foi tomando uma velocidade acelerada. Quando me deixei envolver totalmente pelo perfume do que seria uma eventual paixão... aconteceu: um inesperado pé na bunda.
Seria trágico, se eu não tivesse o transformado em cômico. Mas que merda! Não sei por que eu faço isso.
Saí com uma amiga para contar a minha tragédia pessoal. (Esta amiga tem um relacionamento muito estável com um rapaz que mora em Belo Horizonte. Eles não se veem com tanto frequência, e toda vez que o namorado dela vem eu estou com uma pessoa diferente, que eu juro que é o amor da minha vida. Agora estou começando a ficar sem graça.) Acabei contando coisas muito mais íntimas. Contei sobre os meus sonhos e mostrei a ela  meus esboços. Foi uma nudez espiritual! Mas o fato é que acabei deixando o pé na bunda de lado para falar apaixonadamente sobre meu desejo de escrever e do quanto eu estava deixando isto de lado.
 Foi quando ela me perguntou: - você não pensa em ter um relacionamento estável nunca? Parei para pensar... “Sim, adoraria ter uma pessoa do meu lado e dá-la amor eterno.” Mas isso não acontece na minha vida. E eu me divirto com minhas tragédias pessoais. Eu sei sim qual é o caminho para a estabilidade, mas eu fujo dele e não consigo entender por quê. Estou começando a achar que procuro encrenca como forma de inspiração.
Mas que merda! Transformo minhas tragédias em ideias apaixonadas. Quando falo delas meu olhos brilham, meu coração acelera, se alguém me der corda falo pelos cotovelos sobre elas, as minhas paixões: as ideias.
Pode parecer que não sofro nunca, mas não é verdade. Faço ironia das minhas tragédias pessoais e continuo andando na contramão atrás de mais tragédias. Inspiração autodestrutiva ou espírito de escritor?