Ontem, num momento muito alegre e especial na roda de samba,
meus amigos tocaram Folhas Secas, de Nelson Cavaquinho. Apesar da melodia quase
triste, a letra é uma exaltação às memórias alegres que o autor tinha de sua
juventude, da escola de samba e do morro da Mangueira. No meio da conversa
animada, dois amigos falavam do samba do Rio de Janeiro e de um grupo chamado Sururu na Roda que haviam visto tocar.
Coincidentemente, hoje pela manhã, como em todos os domingos,
liguei a TV para assistir ao programa Sr. Brasil, do Rolando Boldrin e lá
estava o Grupo Sururu na Roda, cantando Folhas Secas. Foi nesse momento que uma
memória muito antiga da minha infância invadiu a minha cabeça. Me vi deitada no
cantinho da cama da minha mãe, fingindo dormir enquanto ela assistia ao Fantástico
tomando Coca-Cola, como fazia todos os domingos à noite. Folhas Secas tocava na
TV e minha mãe cantava junto, demonstrando gostar demais daquela música. Talvez
esta lembrança tenha marcado tanto minha memória de infância porque eu nunca tinha visto minha mãe ouvir música, muito menos cantar.
Ela era uma pessoa muito
fechada, acredito que trazia consigo uma tristeza muito grande, provavelmente
causada pela viuvez tão prematura. Claro que eu era muito pequena para
identificar a música, mas aquilo tinha sido tão marcante que anos depois eu
pude reconhecer a melodia pela lembrança dela cantando. Coisa que ela jamais
faria se tivesse percebido que eu estava acordada.
Depois de tantos anos, acho que hoje compreendi que ela
tinha sim uma alegria muito grande no coração, mas que os percalços da vida
fizeram dela uma pessoa triste. E, a partir disso, compreendi quase tudo que esteve fora do compasso.
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