domingo, 30 de junho de 2013

Memórias

Ontem, num momento muito alegre e especial na roda de samba, meus amigos tocaram Folhas Secas, de Nelson Cavaquinho. Apesar da melodia quase triste, a letra é uma exaltação às memórias alegres que o autor tinha de sua juventude, da escola de samba e do morro da Mangueira. No meio da conversa animada, dois amigos falavam do samba do Rio de Janeiro e de um grupo chamado Sururu na Roda que haviam visto tocar.

Coincidentemente, hoje pela manhã, como  em todos os domingos, liguei a TV para assistir ao programa Sr. Brasil, do Rolando Boldrin e lá estava o Grupo Sururu na Roda, cantando Folhas Secas. Foi nesse momento que uma memória muito antiga da minha infância invadiu a minha cabeça. Me vi deitada no cantinho da cama da minha mãe, fingindo dormir enquanto ela assistia ao Fantástico tomando Coca-Cola, como fazia todos os domingos à noite. Folhas Secas tocava na TV e minha mãe cantava junto, demonstrando gostar demais daquela música. Talvez esta lembrança tenha marcado tanto minha memória de infância porque eu nunca tinha visto minha mãe ouvir música, muito menos cantar. 

Ela era uma pessoa muito fechada, acredito que trazia consigo uma tristeza muito grande, provavelmente causada pela viuvez tão prematura. Claro que eu era muito pequena para identificar a música, mas aquilo tinha sido tão marcante que anos depois eu pude reconhecer a melodia pela lembrança dela cantando. Coisa que ela jamais faria se tivesse percebido que eu estava acordada.  

Depois de tantos anos, acho que hoje compreendi que ela tinha sim uma alegria muito grande no coração, mas que os percalços da vida fizeram dela uma pessoa triste. E, a partir disso, compreendi quase tudo que esteve fora do compasso.

Nenhum comentário: