Andei abandonando meus blogs e
minhas leituras para me dedicar integralmente à porra nenhuma. Estou sempre com
pressa, nunca tenho tempo pra nada e também não tenho feito nada de produtivo.
De seis meses pra cá, desde que comecei a trabalhar em Poços, deixei de perder
pelo menos duas horas diárias no trânsito. Eu sempre desejei ter mais tempo
para escrever meus textos e concluir alguns projetos. Então fiz mil planos de
como ocupar essas duas horas que sobrariam, mas não entendo onde desperdicei tempo
tão precioso.
O fato é que a criatividade
sumiu. As idéias que antes brotavam a qualquer hora me fazendo andar com
gravador à mão dentro do carro e bloco de notas na cabeceira da cama,
simplesmente desapareceram. Foi a segunda vez que passei por um período de
vazio criativo; branco total radiante.

Comecei a ficar insatisfeita
comigo mesma. Além da criatividade ter sumido, parecia que tudo estava fora do
prumo. Minha aparência não agradava, minha vida afetiva não agradava, minhas
ideias não agradavam. Parecia que tudo estava ruim. Então coloquei na cabeça
que aquele tempo em que minha casa estivesse em reforma seria o mesmo que eu
precisaria para colocar minha cabeça em ordem.
O período de reforma da casa foi
muito difícil. Ficamos meses sem cozinha, aguentando uma poeira sem fim. Era
como se estivéssemos acampadas dentro de casa. Neste período também não escrevi
nada, li muito pouco e as coisas pareciam que não se encaixavam na minha vida.
Não sei se é apenas um fator psicológico, mas o fato é que
com o fim da reforma da casa parece que também chegou ao fim um período de
reforma do “eu”. Acordo cedo com disposição para arrumar a casa, colocar os
quadros nas paredes, voltar as plantas para dentro de casa, redefinir o lugar
das cortinas. Depois saio para correr, vou na academia, cuido melhor das
roupas, da aparência, me sinto mais segura. Nem tudo está no prumo, mas sinto
uma disposição imensa para mudar o que precisa ser mudado. E ... de prêmio,
estou com uma vontade incontrolável de escrever.
A vida é feita de altos e baixos. Quando alcançamos o
topo da primeira montanha esquecemos que temos que descer e escalar novamente
para alcançar o topo da segunda. Descidas e novas escaladas são dolorosas, mas
necessárias. São os períodos onde temos que fazer avaliações e, se necessário,
fazer reformas para iniciar uma nova subida com mais disposição. Tudo fica
gasto com o tempo. E, assim como precisamos trocar o piso, derrubar paredes,
fazer retoques na pintura, também precisamos parar, pensar, reavaliar, tomar
fôlego, renovar a aparência, renovar as ideias, tomar coragem, e seguir em
frente; reformados.