
Não sou muito apegada a datas. Talvez seja por causa do maldito
Dia dos Pais. Quando meu pai morreu eu tinha acabado de completar um ano de
idade, então não tenho lembranças dele, nem boas nem ruins. Mas o fato é que nunca gostei
desta data em especial.
Não me lembro do meu pai, mas lembro perfeitamente do dia que fiz na
escola o presente do Dia dos Pais. Era um porta-lápis de lata de massa de tomates
coberto por metades de pregadores de roupas de madeira pintados com verniz. Bem
audacioso para uma criança de pré-primário. Lembro também como fui atormentada
pelo pensamento: pra quem darei isso?
Eu pensava: Sou a única da escola que não
tem pai.
Meu pensamento autoconsolador era tentar acreditar que o fato de não
ter um pai não fazia tanta falta assim. Afinal, eu tinha, o Tio Cote (meu
tio-avô que morava ao lado de casa), o Tio Hélio (marido da Tia Vera – melhor
amiga da minha mãe), Papai Noel (é... eu era tão pequena que ainda acreditava)
e Deus (o Pai de todos nós). Eram quatro, apenas um a menos que as outras
crianças, o que talvez pudesse ser superável. Teve ano que dei o tal presente
do Dia dos Pais para o Tio Cote, outro para o Tio Hélio, mas a maioria dos anos
eu dei o tal presente para a minha mãe mesmo, que era quem fazia ambos os
papéis na minha vida.
Talvez hoje isso possa parecer uma bobagem. Casos raros são as
crianças que têm ambos os pais dentro do mesmo lar, e ainda, irmãos. Eu também
era a única da escola que não tinha nem irmão nem irmã - hoje em dia a maioria dos casais resolve ter apenas um filho. As coisas mudaram muito de uns anos
pra cá. Muitas crianças nos dias de hoje não têm para quem dar o tal presente
do Dia dos Pais, porque talvez sejam filhos de mães solteiras, ou até saibam
quem é o pai, mas não têm afinidade, ou sejam filhos adotivos de casais de
lésbicas, entre outras infinitas possibilidades que não surpreendem ninguém,
porque são consequências do mundo atual.
Talvez essas crianças nem deem importância para isso como eu dava
naquela época, porque cresceram em uma sociedade diferente da que eu vivi há
mais ou menos 40 anos atrás. Fato é que isso tanto teve importância para mim
que, além de lembrar de cada presente do Dia dos Pais, me lembro exatamente das vezes em que foi preciso acionar o tal pensamento autoconsolador.
Mas no frigir dos ovos, o fato de não ter um pai alí, acompanhando o meu crescimento não teve grandes consequências. Minha mãe cumpriu seu papel, e eu cresci. Cresci e tenho uma filha que também nunca teve uma presença paterna relevante. Não sei que consequências isso trás na vida dela, mas espero que eu esteja cumprindo o meu papel.
Hoje é Dia de Nossa Senhora Aparecida. Muito conveniente que hoje
também seja comemorado do Dia das Crianças. Afinal, crianças e mães têm tudo a
ver. Não dei presente pra minha criança, afinal, ela completa 18 anos mês que
vem. Mas, coincidência ou não, tinha combinado com ela que hoje eu começaria a
ensiná-la a dirigir. E foi isso que fizemos pela manhã.

Lembro-me quando minha mãe me levou para dar meus solavancos entorno
do estádio Ronaldão. Ela gritou muito comigo, afinal, é tenso ensinar. Mas,
também é uma forma de transmitir ao filho a seguinte mensagem implícita: Vamos
lá, vou te ensinar porque confio em você. Em breve você estará dirigindo um
carro e sua própria vida e terá que ter destreza e autoconfiança nas duas
ações. MInha mãe me passou esta mensagem quando eu tinha 15 anos, e hoje eu passo a mesma mensagem a minha filha.