quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Um dia especial


Não sou muito apegada a datas. Talvez seja por causa do maldito Dia dos Pais. Quando meu pai morreu eu tinha acabado de completar um ano de idade, então não tenho lembranças dele, nem boas nem ruins. Mas o fato é que  nunca gostei desta data em especial.

Não me lembro do meu pai, mas lembro perfeitamente do dia que fiz na escola o presente do Dia dos Pais. Era um porta-lápis de lata de massa de tomates coberto por metades de pregadores de roupas de madeira pintados com verniz. Bem audacioso para uma criança de pré-primário. Lembro também como fui atormentada pelo pensamento: pra quem darei isso? Eu pensava: Sou a única da escola que não tem pai.

Meu pensamento autoconsolador era tentar acreditar que o fato de não ter um pai não fazia tanta falta assim. Afinal, eu tinha, o Tio Cote (meu tio-avô que morava ao lado de casa), o Tio Hélio (marido da Tia Vera – melhor amiga da minha mãe), Papai Noel (é... eu era tão pequena que ainda acreditava) e Deus (o Pai de todos nós). Eram quatro, apenas um a menos que as outras crianças, o que talvez pudesse ser superável. Teve ano que dei o tal presente do Dia dos Pais para o Tio Cote, outro para o Tio Hélio, mas a maioria dos anos eu dei o tal presente para a minha mãe mesmo, que era quem fazia ambos os papéis na minha vida. 

Talvez hoje isso possa parecer uma bobagem. Casos raros são as crianças que têm ambos os pais dentro do mesmo lar, e ainda, irmãos. Eu também era a única da escola que não tinha nem irmão nem irmã - hoje em dia a maioria dos casais resolve ter apenas um filho. As coisas mudaram muito de uns anos pra cá. Muitas crianças nos dias de hoje não têm para quem dar o tal presente do Dia dos Pais, porque talvez sejam filhos de mães solteiras, ou até saibam quem é o pai, mas não têm afinidade, ou sejam filhos adotivos de casais de lésbicas, entre outras infinitas possibilidades que não surpreendem ninguém, porque são consequências do mundo atual.

Talvez essas crianças nem deem importância para isso como eu dava naquela época, porque cresceram em uma sociedade diferente da que eu vivi há mais ou menos 40 anos atrás. Fato é que isso tanto teve importância para mim que, além de lembrar de cada presente do Dia dos Pais, me lembro exatamente das vezes em que foi preciso acionar o tal pensamento autoconsolador.

Mas no frigir dos ovos, o fato de não ter um pai alí, acompanhando o meu crescimento não teve grandes consequências. Minha mãe cumpriu seu papel, e eu cresci. Cresci e tenho uma filha que também nunca teve uma presença paterna relevante. Não sei que consequências isso trás na vida dela, mas espero que eu esteja cumprindo o meu papel.

Hoje é Dia de Nossa Senhora Aparecida. Muito conveniente que hoje também seja comemorado do Dia das Crianças. Afinal, crianças e mães têm tudo a ver. Não dei presente pra minha criança, afinal, ela completa 18 anos mês que vem. Mas, coincidência ou não, tinha combinado com ela que hoje eu começaria a ensiná-la a dirigir. E foi isso que fizemos pela manhã.

Aos trancos e solavancos ela engatava a primeira e andávamos alguns metros, depois engatava a ré e voltávamos. O começo é assim mesmo; todo mundo que dirige já teve seu primeiro dia de solavancos. No entanto, é um dia especial. 

Lembro-me quando minha mãe me levou para dar meus solavancos entorno do estádio Ronaldão. Ela gritou muito comigo, afinal, é tenso ensinar. Mas, também é uma forma de transmitir ao filho a seguinte mensagem implícita: Vamos lá, vou te ensinar porque confio em você. Em breve você estará dirigindo um carro e sua própria vida e terá que ter destreza e autoconfiança nas duas ações. MInha mãe me passou esta mensagem quando eu tinha 15 anos, e hoje eu passo a mesma mensagem a minha filha.